Pesquisas aproximam ideias de diferentes países
Universidades na França estimulam o intercâmbio entre pesquisadores do mundo todo
por Julia Tami
A pesquisa é algo que permeia a formação superior do jornalista na França, desde a graduação. Já no primeiro ciclo (premier cycle), que corresponde aos três primeiros anos do ensino superior francês, os alunos podem iniciar seus projetos de pesquisa, que ainda é uma atividade opcional nessa fase.
Na pós-graduação, esse contato se intensifica. A pesquisa não é mais uma opção. Nas duas principais categorias de pós para a formação do jornalista na França – o Master e o Doctorat –, os estudantes são obrigados a ter um projeto de pesquisa, ao qual se dedicam além das aulas. O jornalista não precisa cursar a pós-graduação para exercer a profissão. Mas, se decidir cursá-la, aí sim, será obrigado a se envolver com a pesquisa propriamente.
Em âmbito nacional, o órgão gestor de pesquisa na França é o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), que administra institutos de todas as áreas do conhecimento. Dentre eles, o Instituto de Ciências da Comunicação (ISCC) concentra os temas de jornalismo. O CNRS se subdivide em cinco domínios, que são campos distintos para os estudos sob sua responsabilidade: “linguagem e comunicação”; “comunicação, política, espaço público e sociedade”; “mundialização e diversidade cultural”; “informação técnica e científica” e “ciência, técnica e sociedade”.
Criado em 2007, o ISCC tem como objetivo estimular a interdisciplinaridade no campo da comunicação, por meio de trabalhos voltados à mídia, às novas tecnologias e aos processos da informação. Segundo os dados anuais divulgados pelo ISCC, o instituto auxilia mais de mil pesquisadores, em 250 laboratórios, tendo financiado cem projetos de 2007 a 2010.
Além do apoio do CNRS, há também inúmeros grupos e centros de pesquisa dentro das universidades francesas. As atividades funcionam normalmente vinculadas à pós-graduação, coordenadas por docentes da própria universidade. No caso de jornalismo, os alunos que cursam o Master também integram esses grupos, formados tanto por estudantes franceses como por estrangeiros de convênios acadêmicos.
Para além das fronteiras nacionais
O intercâmbio entre alunos e pesquisadores de diferentes partes do mundo é uma das principais características das universidades francesas. Dentre as escolas reconhecidas pela profissão, todas elas possuem programas de convênio internacional, para estudantes estrangeiros que desejam ingressar na instituição ou para alunos franceses que buscam uma experiência de ensino ou pesquisa no exterior.
O apoio à mobilidade internacional faz parte da cultura acadêmica na França. Além dos convênios, o país possui uma estrutura de acolhimento, vinculada aos centros de pesquisa e às universidades. O professor de fotojornalismo da Escola de Comunicações de Artes da Universidade de São Paulo, Atílio Avancini, integra atualmente o grupo de pesquisadores estrangeiros na Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris III. Seu projeto “A Fotografia como Reconstrução da Vida Cotidiana: interfaces entre os processos analógico e digital” é orientado pelo professor Philippe Dubois e financiado pela FAPESP no Brasil.
O professor ressalta o esforço relativo às trocas acadêmicas no meio universitário francês, principalmente na capital: “O grande diferencial de Paris é a ideia de acolher os pesquisadores num local primoroso, que é a Cité Internationale Universitaire de Paris. A Cité foi criada em 1925 para favorecer as trocas e os encontros entre pesquisadores do mundo todo numa área de 34 hectares e que acolhe 10 mil residentes de 140 nacionalidades por ano”, afirma Avancini.
Intercâmbio e interdisciplinaridade
Um exemplo do contato entre diferentes países é a Rede de Estudos de Jornalismo (REJ), um grupo de pesquisa interdisciplinar e internacional, fundado em 2002, com o objetivo de estudar processos e temáticas do jornalismo. A rede integra atualmente 27 pesquisadores ligados a universidades da França, do Brasil, do Canadá, do México e da Ilha da Reunião.
São realizados encontros anuais, normalmente sediados na França, que resultam em publicações e atividades acadêmicas planejadas pelo grupo. Segundo o relato da pesquisadora Zélia Leal Adghirni, uma das integrantes do REJ e também professora da Universidade de Brasília, há uma tradição dos estudos de jornalismo, mas também há uma renovação constante, característica da própria área do conhecimento: “Observamos que é grande o número de jovens pesquisadores que se debruçam sobre este terreno, o que revela a vitalidade permanente do tema no mundo acadêmico. Por outro lado, observamos que estas pesquisas são ainda muito dispersas, e marcadas por clivagens disciplinares fortes. Nesta área, a sociologia das profissões e das organizações, a sociologia política e a história da imprensa têm um peso desproporcional diante das ciências da linguagem, que encontram dificuldades para valorizar sua pertinência. Constatamos ainda que as pesquisas que trazem uma abordagem econômica do jornalismo são praticamente inexistentes.”
O grupo publica periodicamente artigos e materiais sobre o assunto, divididos de acordo com a temática: convergência, estudos de comunicação, história e estudos do jornalismo, linguagem e sociedade. É possível acessar o material produzido pelo grupo através do site do REJ – http://www.surlejournalisme.com/
Evento de pesquisa organizado pelo REJ em Paris