As engrenagens da máquina
Para se ter uma ideia mais profunda sobre a imprensa norteamericana, é necessário se perguntar: como se formam seus profissionais de comunicação?
Por Marina Pastore
A partir de dados de pesquisas e dos sites oficiais das principais universidades, é possível delinear um perfil dos professores de jornalismo dos EUA, possibilitando uma compreensão melhor de alguns aspectos valorizados na formação dos futuros profissionais da imprensa.
Segundo dados da Pesquisa Annual de Jornalismo e Comunicação de Massa (Annual Survey of Journalism and Mass Communication) de 2009, o total de professores das faculdades americanas de jornalismo e comunicação era de 6725 docentes em tempo integral e 4820 em meio período. Considerando que foram analisadas 484 escolas, chega-se a um total de 23,9 professores por escola, sendo 13,9 em tempo integral e 10 em meio período. Este é, aparentemente, um número pequeno, considerando que entram nesta conta tanto os cursos de graduação quanto os de mestrado e doutorado. Entretanto, deve-se levar em consideração que esta contagem refere-se apenas ao quadro docente permanente das escolas, excluindo conferencistas e professores convidados. A Escola de Jornalismo da Universidade de Berkeley, por exemplo, lista apenas 16 professores no seu corpo docente permanente, mas conta com mais 36 professores convidados, provenientes de diversas partes do mundo e que, segundo o site oficial da instituição, são trazidos para “ensinar e trabalhar em seus próprios projetos, frequentemente junto aos estudantes”.
Comparando-se a quantidade de professores ao total de alunos das faculdades, também tem-se uma dimensão melhor do significado deste número. De acordo com dados da mesma pesquisa, em 2009 foram registradas 200639 matrículas em todos os anos da graduação e 14657 na pós graduação, num total de 215296 alunos; já o total de professores ficou em 11545. Fazendo um cálculo geral, chega-se a uma relação professor/aluno de 18,6 – um número bastante razoável. Considerando que o jornalismo é um curso muito baseado em discussão e em disciplinas laboratoriais, era realmente de se esperar que o número de alunos por sala fosse reduzido, permitindo que o professor atenda a cada estudante de maneira individual e estimule debates mais organizados e aprofundados.
A formação dos professores
Analisando os currículos do corpo docente das principais faculdades de jornalismo norteamericanas, nota-se que o diploma de pós-graduação não é exigido para lecionar. A experiência profissional parece ser tão valorizada quanto a carreira acadêmica, ou até considerada mais importante do que esta. Tanto é que, analisando os currículos dos 59 integrantes do corpo docente de Berkeley e Columbia, duas das principais escolas de jornalismo dos EUA, apenas seis professores declaram não ter experiência direta em redações – estes são, em geral, responsáveis por disciplinas específicas como História do Jornalismo ou Tecnologia da Informação.
Por outro lado, apenas 25 declaram ter diploma de mestrado e 4 de doutorado. Os 30 professores restantes possuem diplomas de graduação nas mais diversas áreas: repete-se aqui a mesma tendência notada entre os alunos que optam pela pós-graduação em jornalismo, isto é, o fato de que muitos não se graduaram em jornalismo ou comunicação, adquirindo conhecimento na área a partir de pesquisa específica na área (no caso dos professores de história ou tecnologia, por exemplo) ou, na maioria dos casos, de extensa experiência de redação. A enorme maioria dos currículos analisados mencionava pelo menos um meio de comunicação consagrado, nas mais diversas mídias – emissoras de TV como ABC, BBC e PBS, jornais como The New York Times, The Washington Post e LA Times, revistas como Time, Newsweek e National Geographic, todas aparecem nos currículos de professores.
É interessante notar que grande parte dos docentes não deixou de atuar profissionalmente para se dedicar totalmente ao magistério. O próprio site de Berkeley, por exemplo, declara: “Nossos professores vêm das melhores organizações de mídia e instituições acadêmicas do país. Eles continuam praticando nossa atividade no impresso, rádio, TV e nas novas mídias, além de produzirem livros e trabalhos independentes para várias publicações”. Isto mostra não apenas que os professores têm a experiência prática necessária para transmitir aos seus alunos detalhes sobre o dia a dia da profissão, mas também que os próprios meios de comunicação continuam mantendo a colaboração de pessoas em contato direto com o mundo acadêmico, o que favorece o intercâmbio entre estes dois mundos – o do ensino/pesquisa e o da atividade profissional, enriquecendo ambos.
Apesar de não ser exigida formação específica na área para lecionar jornalismo nas universidades, existem programas que se propõem a “ensinar a ensinar” jornalismo e fornecem certificações na área, tais como o da Associação de Educação em Jornalismo (Journalism Education Association). Este tipo de programa, entretanto, é mais voltado aos professores que pretendem dar aulas de jornalismo no Ensino Médio (algo bastante comum nas escolas americanas), e o certificado nacional, ainda que não obrigatório, lhes fornece uma prova de que têm a qualificação necessária.