Como “los latinos” viram jornalistas
Licenciatura, plano de estudos e ciências da comunicação: os caminhos para quem estuda jornalismo na América Latina
por Camila Camilo
Apesar da queda do diploma, quem deseja tornar-se jornalista no Brasil costuma seguir um caminho. O estudante que conclui o Ensino Médio e tem condições de estudar elege algumas faculdades de seu interesse, presta vestibular e se passar fará um curso de cerca de quatro anos que o habilita a trabalhar em redações jornalísticas e nos diferentes departamentos de comunicação das empresas.
Mas e no resto da América Latina, como alguém se torna jornalista?
Para começar é importante esclarecer algumas dúvidas de vocabulário, comuns para quem procura cursos de jornalismo no continente, onde as denominações dos níveis de ensino são diferentes do Brasil.
Bachillerato, por exemplo, designa um nível intermediário entre a educação secundária (o nosso Ensino Médio) e o Ensino Superior. Seu objetivo é preparar o aluno para a faculdade. Não é obrigatório, mas em alguns países sem ele fica difícil conseguir um emprego bem remunerado. Quem conclui o bachillerato faz um exame seletivo composto por provas escritas antes de entrar na universidade.
Em alguns países, por outro lado, bachillerato designa o curso de graduação, chamado de grado ou pregrado em outras regiões da América Latina.
Quem estuda jornalismo na faculdade se torna, na maioria dos casos, Licenciado em Jornalismo ou em Ciências da Comunicação. Isso não quer dizer que quem faz licenciatura se forma como professor, embora muitos cursos de comunicação social ofereçam como habilitação “Comunicação e Educação Comunitária”, além de Publicidade, Relações Públicas e Jornalismo . Licenciatura é um tipo de graduação ligada a uma área do saber. Neste caso, Ciências da Comunicação.
Cursos
No Uruguai, a “Licenciatura em Comunicação Jornalística” é uma carreira universitária reconhecida oficialmente pelo Ministério de Educação e Cultura. O primeiro curso de graduação em jornalismo no país é novo. Data de 1980, na Universidade da Conferência Episcopal Uruguaia confiada à Companhia de Jesus, seguindo a tradição latino-americana das universidades que surgiram ligadas à Igreja Católica.
Em geral os primeiros anos compõem um ciclo básico. Na Universidade da República, após o terceiro ano o aluno escolhe trayectos: Publicidade, Comunicação Educativa e Comunitária, Cinema, Televisão e Audiovisual, Jornalismo e Análise de Comunicação. O curso se complementa com matérias optativas e eletivas, além de atividades extracurriculares. Quem se forma obtêm o título de Licenciado em Ciências da Comunicação. Antes de terminar a faculdade, no fim do ciclo básico, os alunos recebem uma qualificação mínima para trabalhar na área. São considerados técnicos em comunicação social.
No Uruguai quem se forma como jornalista pode atuar na comunicação organizacional das empresas, assim como no Brasil.
Algo comum em toda a América Latina é o plano de estudos, disciplinas que os alunos escolhem cursar antes de entrar. Algo bem institucionalizado na maioria dos países. Na Universidad de Monterrey, no México, os alunos do curso de Licenciaturas em Ciências da Informação e da Comunicação têm um plano pessoal de formação. Ele começa com testes vocacionais antes mesmo do aluno ingressar, como uma maneira de atraí-lo para a Universidade. Quando ele entra, faz um teste de nível em inglês para saber em que nível deve continuar os estudos na língua.
Este planejamento inclui também o intercâmbio e prestação de serviços no terceiro setor, além de orientações para redirecionamento do currículo e até para a pós-graduação. Lá, o aluno sai habilitado para atuar como jornalista ou publicitário.
No México, a mais antiga escola de jornalismo é a Escola de Jornalismo Carlos Septién García, que existe desde 1949 e, assim como no Uruguai, surgiu ligada à Igreja Católica, embora seja atualmente independente. Além de ser uma unidade exclusivamente voltada ao ensino do jornalismo, algo semelhante à Fundação Cásper Líbero, em São Paulo, o destaque da escola são os mestrados em Jornalismo. Enquanto na América Latina como um todo há poucos cursos de pós-graduação exclusivos na área, a Escola oferece mestrado em Jornalismo Político e em Jornalismo Econômico.
Ensino público e qualidade
A maior universidade pública da Argentina, a Universidade de Buenos Aires (UBA), oferece o curso de jornalismo. Ao contrário da maior universidade pública brasileira, o acesso ao ensino superior público é gratuito e irrestrito. Isso significa que praticamente todo mundo que sai do equivalente ao Ensino Médio na Argentina, pode entrar na faculdade.
Diferenças à parte, um estudo realizado pela Federação Latinoamericana de Faculdades de Comunicação Social, a Felafac, em parceria com a Unesco, mostra que o cenário dos curso de comunicação no Brasil é bem semelhante ao que acontece hoje no resto da América Latina.
O caracter público ou privado das instituições tende a marcar a qualidade da formação de comunicadores e jornalistas. Como diz o estudo:
“As universidades públicas parecem preferir manter o prestígio que ganharam ao longo dos anos e investir em pesquisa, embora em muitos casos se encontrem muito massificadas e em constante crise, enquanto as privadas – principalmente as que se orientam pela profissionalização – tendem a investir em equipe e infra-estrutura, muitas vezes deixando de lado a área acadêmica”