Na Espanha, cursos de Graduação sofrem mudanças
A primeira faculdade de Jornalismo da Espanha surge em 1926. O quanto o ensino no país mudou, até chegar ao que é hoje?
Por Marina Jankauskas
“Na Espanha, como em grande parte das nações do Ocidente, o ensino de Jornalismo surgiu como uma consequência da preocupação dos grandes profissionais da imprensa e como uma urgência social e política do século XX, após a filosofia liberal ter se expandido na Europa. Se nosso país teve alguma peculiaridade, essa foi a de ter dado um primeiro passo tímido nas aulas da Universidade e ter conseguido suas credenciais das mãos de um grande jornalista, com o apoio da Igreja”.
Assim começa o capítulo Las Escuelas de Periodismo em España (As Escolas de Jornalismo na Espanha) da tese de doutorado La Enseñanza del Periodismo en El Mundo Occidental de Mercedes Gordon Pérez, da Universidad Complutense de Madrid. Nele, Mercedes explica que a primeira escola de Jornalismo da Espanha, La Escuela de El Debate, data de 1926 e foi um Centro acadêmico arbitrado por Don Angel Herrera, o então diretor do diário católico do qual a universidade herdou o nome. Herrera, que teve o apoio da Igreja, fundou a instituição com o objetivo de fornecer a capacitação técnica aos homens dedicados à tarefa de fazer jornalismo. Desse modo, o primeiro curso da Escuela de El Debate foi na verdade um “cursillo” de três meses – de março e julho de 1926 – e teve 50 inscrições, mas somente 20 admissões.
Mesmo que na Espanha os currículos ensinados nas faculdades de jornalismo tenham sido, de certa forma, herdeiros das matérias desenvolvidas na El Debate, muita coisa mudou no país desde aquela época. A começar pelo número de instituições e, principalmente, o de alunos matriculados. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística espanhol, atualmente existem 33 institutos de Graduação em Jornalismo no país, e impressionantes 15697 alunos matriculados nos cursos dessas universidades.
Titulações no Jornalismo
A estrutura do ensino universitário espanhol vem sofrendo, recentemente, modificações profundas para se adequar ao Plano de Bolonha [aqui, colocar o link do texto da Alice]. A maior delas talvez seja o fato de que as antigas Licenciaturas foram extintas, e adaptadas aos novos Grados. Assim, desde 2010, o ensino se organiza segundo um modelo baseado em três ciclos consecutivos: o Grado (ou Graduação), destinada à formação do estudante para o exercício da profissional de uma ou várias disciplinas; o Máster (ou Pós-Graduação), orientada à especialização acadêmica ou profissional, ou a sua iniciação na pesquisa; e o Doutorado (ou PhD) dedicado à pesquisa universitária.
Com exceção de algumas titulações como Medicina, Arquitetura, Engenharia e as “titulações duplas”, cuja carga letiva é maior, o resto dos títulos (e isso inclui Jornalismo) tem uma carga letiva de 240 créditos ECTS (European Credit Transfer System), o que significa uma duração de quatro anos cursando 60 créditos em cada um deles. Cada título se vincula a uma das cinco ares do conhecimento: Artes e Humaninades; Arquitetura e Engenharia; Ciências; Ciências da Saúde; ou Ciências Sociais e Jurídicas.
A Graduação de Jornalismo na Espanha pode ser considerada semelhante ao sistema brasileiro em alguns aspectos. Renata Moraes, Coordenadora de Comunicação da Fundação Estudar, estudou na Universidade de Navarra durante a faculdade. Ela comenta que achou parecido o fato do ensino espanhol, assim como brasileiro, ter uma mescla maior entre teoria e prática. “Eu tive alguns amigos que estavam na Espanha, por exemplo, que vinham de universidades americanas, e eles falavam que lá o ensino é muito mais prático, de laboratório. Que você aprende mais fazendo projetos do que tendo aula. Já na Espanha a gente tem uma mescla muito parecida entre teoria e prática com o que vemos na ECA [Escola de Comunicações e Artes da USP], ou na Cásper [Fundação Cásper Líbero].” Renata também disse que as referências que levamos em conta ao estudar jornalismo aqui são praticamente às mesmas dos espanhóis.
Mas se o ensino de Jornalismo do Brasil tem certas semelhanças com o modelo espanhol, também não podemos afirmar que tudo seja igual. Renata explica que, pelo menos através de sua experiência em Navarra, achou que o curso na Espanha é muito mais conteudista do que no Brasil. Lá, ela inclusive descobriu o que são “vendas de apuntes”, ou seja, a prática de vender anotações das aulas, antes de provas e trabalhos, coisa que não via no Brasil. A própria carreira jornalística é vista de uma forma diferente. Grande parte das universidades espanholas, inclusive a Universidad de Navarra e a Universidad Complutense de Madrid, divide o “nosso” curso de Jornalismo em dois outros: Comunicação Audiovisual, que para nós está mais ligado ao cinema, lá é destinado a aqueles que queiram seguir carreira no jornalismo televisivo; e Jornalismo em si, que é focado na parte impressa, para as pessoas trabalharem em jornais, revistas e sites de jornalismo. Isso significa que, para os espanhóis de 16, 17 anos que estão ingressando na universidade, não é suficiente saber somente que você quer seguir a carreira jornalística. Na hora de escolher seu curso, ele já deverá saber que ramo do jornalismo ele seguirá.