Portugal é último país europeu a criar escolas de jornalismo
O primeiro curso de Comunicação Social foi criado só em 1979, cinco anos depois do fim do regime ditatorial no país em 1974
por Raissa Pascoal
Último país europeu a criar escolas de jornalismo, Portugal teve motivos particulares para a demora. Enquanto o boom de instituições especializadas no ensino da profissão em países europeus acontecia entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundiais, Portugal passava por um longuíssimo período de ditadura militar. De 1926 a 1974 (início da Revolução dos Cravos), o país viveu numa situação de censura e apreensão de publicações. Tudo isso feito por um governo que desejava garantir a permanência do regime que temia que a liberdade fizesse o circo ruir.
De 1926 a 1933, as liberdades individuais dos cidadãos portugueses foram suspensas pelos militares. Para controlar as finanças de um país mergulhado na crise econômica, foi chamado para o Ministério das Finanças Antônio de Oliveira Salazar. Depois de equilibrar as contas, o novo ministro e seu sobrenome marcariam a história de Portugal, dando início ao que ficou conhecido como Salazarismo, regime com características fascistas, que durou de 1933 a 1974.
Durante toda a história de criação de cursos, houve jornalistas que se colocaram contra a criação. O motivo era bem simples: a profissão era inata à pessoa e não poderia ser ensinada. Um dos primeiros jornalistas opositores ao curso foi Bento Carqueja, diretor do jornal Comércio do Povo e professor da Universidade do Porto. Dentre os que defendiam a criação do curso, estavam aqueles que esperavam uma formação mais completa. É o caso de João Paulo Freire, diretor do Diário da Noite, que, na década de 1930, escreveu Escolas de Jornalismo – Temas Profissionais, falando sobre a necessidade de uma formação geral do jornalista, que poderia frequentar liceus e fazer um curso superior de Letras, por exemplo.
A primeira tentativa – mal sucedida, assim como todas até 1979 – aconteceu em 1926, quando o Sindicato dos Trabalhadores da Imprensa de Lisboa resolveu promover a ideia. A partir daí, inúmeras tentativas foram realizadas. Confira na linha do tempo com os principais acontecimentos na história da criação do curso de jornalismo em Portugal.
Faculdade de Ciencias Sociais e Humanasda Universidade Nova de Lisboa
LINHA DO TEMPO
1926: 1º Boletim do Sindicato dos Trabalhadores da Imprensa de Lisboa – ideia de criar uma Escola Superior de Jornalismo
1935: Jornalista João Paulo Freire fala sobre a necessidade de criar uma escola para jornalistas em seu livro Escolas de Jornalismo – Temas Profissionais
1941: Projeto de um Curso de Formação Jornalística entregue por Luís Teixeira ao Subsecretário da Educação Nacional
1962: Introduzido no Curso Complementar de Estudos Ultramarinos do Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina a cadeira de Sociologia da Comunicação
1964: Sindicato Nacional dos Jornalistas passa a exigir como condição de acesso á carteira profissional pelo menos o curso geral dos liceus
1966: Diário Popular promove Curso de Iniciação Jornalística
1968: I Curso de Jornalismo, organizado pelo Sindicato
1970/1: Elaboração do Projecto de Ensino de Jornalismo em Portugal pelo Sindicato
1979: Depois de cinco anos da revolução que derrubou o regime ditatorial, o primeiro curso universitário de jornalismo nasceu. Ele foi criado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, na Universidade de Coimbra. A partir daí, muitos cursos foram surgindo.
Criação do curso
A criação do curso, no entanto, ocorreu apenas em 1979, cinco anos após o fim do Estado Novo português e a instalação da democracia. O primeiro curso foi criado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com o nome de Ciências da Comunicação. É importante ressaltar que ainda não existia nenhuma escola autônoma de comunicação, mas sempre era ligada a uma faculdade de humanidades, como filosofia, ciências sociais e letras.
A partir daí, novos cursos foram surgindo. Na década de 80, o ensino se firmou e cresceu na década seguinte. Na década de 90, a mudança dos currículos veio atualizar o que vinha sendo ensinado.
Algumas instituições além das universidades foram criadas para promover a formação de profissionais em serviço, como é o caso do Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas (CENJOR), em Lisboa, e o Centro de Formação de Jornalistas, no Porto. Esses centros oferecem ensino técnico-profissional.
Além desses centros, foram criadas outras instituições. Com o perfil científico, surgiram o Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ), a Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (SOPCOM), entre outras.
Número do ensino hoje
A Direcção-Geral do Ensino Superior (DGES) de Portugal – organismo público que presta informações sobre o sistema de ensino superior do país e está ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) – divulga todos os cursos superiores existentes no país, públicos ou privados, graduação ou pós-graduação, com o número de vagas e duração.
Dentre todas as faculdades públicas e privadas do país, listadas em maio de 2011, existem apenas cinco cursos de licenciatura que carregam jornalismo no nome, totalizando 1000 vagas. Três universidades em Lisboa, uma em Coimbra e uma em Portalegre, sendo três públicas e duas privadas. Dois desses cursos chamam-se Comunicação e Jornalismo.
No entanto, existem cerca de 30 cursos de comunicação ligados à área de jornalismo. Isso significa que, cursos nomeados como Ciências da Comunicação, Ciências da Informação ou apenas Comunicação Social, apontam como uma das saídas profissionais o jornalismo.
Analisando os planos curriculares, o nome do curso designa seu maior ou menor grau de especificidade na área de jornalismo.