Portugal adapta os planos curriculares dos cursos de comunicação
Depois do Plano de Bolonha e de discussões quanto à praticidade do ensino, o país realizou algumas mudanças na estrutura curricular disponíveis para adaptá-lo à nova realidade
por Raissa Pascoal
Depois da criação do primeiro curso de comunicação social em solo lusitano em 1979, Portugal assistiu a uma proliferação de cursos que, em grande parte, não carregava “jornalismo” no nome, mas o oferecia como saída profissional. Os nomes variavam de Comunicação Social, Ciências da Comunicação, Ciências da Informação e várias vertentes da comunicação.
Durante a década de 80 e 90, muitos cursos de comunicação foram criados. Até então, não existia uma escola específica e, por isso, eles faziam parte – e ainda muitos fazem – de faculdades de humanidades. Essa ligação próxima com outras áreas, como letras, filosofia e ciências sociais, influenciou os planos curriculares dos cursos de comunicação no país.
Além dos cursos, foram criados centros de ensino técnico-profissional, com a intenção de promover a formação de profissionais já em serviço. É o caso do Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas, em Lisboa, e do Centro de Formação de Jornalistas, no Porto.
O surgimento desses cursos e a ligação íntima com outras áreas de humanas levantaram questões sobre como estava sendo ensinado o jornalismo nas escolas e seu grau de praticidade. A duração variava de quatro a seis anos e, inicialmente, eram bastante generalistas. Em 1993, surgiu a primeira licenciatura com o nome Jornalismo, na Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra, que existe até hoje com o mesmo nome.
Antes do Plano de Bolonha, de 1999, existia a diferenciação entre os cursos das universidades e das politécnicas definidas pela Lei de Bases do Sistema Educativo. O primeiro era mais teórico e, o segundo, mais prático. Após o Tratado, o ensino superior de Portugal, assim como o dos países europeus signatários, se organizou sob linhas comuns. A principal mudança foi a divisão do ensino em três ciclos e a criação de um sistema de créditos.
O primeiro ciclo é o da licenciatura com duração de seis semestres, ou seja, menos tempo do que o formato de licenciatura anterior. O tempo reduzido incentiva os alunos a continuarem os ciclos. O segundo e o terceiro são, respectivamente, mestrado e doutorado.
A adaptação dos cursos de jornalismo em Portugal começou na primeira década do século XXI. Além do Plano de Bolonha, percebeu-se que era preciso acompanhar as mudanças tecnológicas do mundo, com a inserção do ensino em todos os media e plataformas disponíveis. Era preciso, assim como em todos os outros países, um curso adequado à realidade prática.
Currículos
São muitos cursos de licenciatura em Portugal ligados à área de comunicação e, portanto, muitos planos curriculares. Comparando alguns cursos com nome diferentes e de faculdades diferentes, dá para perceber que isso influencia no grau de especificidade do currículo oferecido. Todos eles oferecerem o jornalismo para o que eles chegam de saídas profissionais. Além de jornalismo, outras saídas são relações públicas, publicidade, marketing e consultoria de comunicação.
O curso de Jornalismo da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra mescla em seu currículo matérias práticas, como Princípios e Práticos de Jornalismo Radiofônico e também Televisivo, com teóricas, indo de História do Século XX, Discurso e Comunicação e Deontologia. A faculdade ainda oferece Língua Portuguesa, Técnicas de Redação e matérias optativas aos alunos. É um curso bastante específico para o jornalismo e abrangente, porque traz matérias gerais.
A Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa oferece o curso de Ciências da Comunicação. Ele foi o primeiro a ser criado em Portugal. Em comparação com o da Universidade de Coimbra, ele é mais geral e se preocupa com a formação no campo amplo das Ciências da Comunicação. No entanto, ele oferece quatro opções de percursos durante o curso: Cinema e Televisão; Comunicação, Culturas e Artes; Comunicação Estratégica; e Jornalismo.
O aluno ingresso no curso deve cumprir 20 obrigatórias que unem disciplinas de comunicação – como Discurso dos Media e Teoria da Notícia – e de ciências humanas – como Economia e Semiótica. Além disso, o percurso a ser escolhido é dado pelas disciplinas chamadas opções condicionadas. Para jornalismo, o estudante pode escolher gêneros jornalísticos, produção jornalista, jornalismo televisivo e ateliês, que são disciplinas práticas de ciberjornalismo, rádio, televisão e impresso.
O curso de Comunicação Social da Escola Superior de Educação de Setúbal do Instituto Politécnico de Setúbal oferece aos alunos 27 disciplinas obrigatórias distribuídas em seis semestres – 10 no primeiro ano, 8 no segundo e 9 no terceiro. Boa parte dessas matérias é teórica, ainda que específicas de jornalismo. Dentre as 27, estão Antropologia Cultural, Teorias do Jornalismo, Sociologia da Comunicação, Ciência e Teoria Política e Matemática para Comunicação social.
Além das obrigatórias, o aluno deve cursar optativas que também são, em grande parte, teóricas. No entanto, há algumas mais práticas dependendo do ramo escolhido – Comunicação Cultural ou Jornalismo. Para quem escolher o segundo, há disciplinas como Produção do Texto Jornalístico, Jornalismo Radiofônico e Fotojornalismo, além de estágio obrigatório, que não é remunerado.
De acordo com a Direcção-Geral do Ensino Superior (DGES) de Portugal, além desses três, nas universidades privadas, públicas e a Católica existem mais quatro cursos de licenciatura com o nome de Jornalismo, seis com o nome apenas de Comunicação social, quatro de Ciências da Informação e da Documentação e dez com o nome apenas de Ciências da Comunicação. Os currículos variam entre si assim como os planos das três escolas citadas.