Em reforma, desculpem o transtorno
Mudanças no ensino superior ainda estão em andamento, mas já dividem opiniões.
por Mayara Teixeira
Entusiasta do Plano de Bolonha, Peter Zervakis, coordenador do projeto na Conferência dos Reitores Alemães (HRK), afirma que desde os anos70, a Alemanha não tinha vivenciado uma reforma tão abrangente no estudo e no ensino. O país foi um dos primeiros a manifestar interesse em um espaço comum de ensino superior.
“O antigo sistema abria espaço para muita ineficiência. Além do que, nele priorizávamos a profissão do pesquisador, do cientista. Hoje sabemos que somente uma pequena parcela dos estudantes se interessa em seguir esse caminho”, completa Zervakis em entrevista para o site da Deutsche Welle, a maior empresa de radiodifusão alemã.
Peter Zervakis, coordenador do Processo de Bolonha na Conferência dos Reitores Alemães (HRK)
O que é o Plano de Bolonha?
O que mudou
A partir de 2003, as instituições alemãs passaram a oferecer os títulos de Bachelor (bacharelado de 3 anos de duração), Master (mestrado, 2 anos) e Promotion (doutorado, 3 anos) em equivalência com os títulos acadêmicos do Espaço Europeu de Ensino Superior.
No antigo sistema, poucas matérias eram exigidas e os estudantes podiam escolher entre uma grande variedade de aulas. Hoje, no bacharelado, os estudantes aprendem método de trabalho científico, metodologia de investigação e fundamentos de cada disciplina. Há, então, um exame intermediário. Se o aluno for aprovado, está apto a cursar disciplinas mais específicas.
Quando terminam o curso, os estudantes recebem um Diploma e um Suplemento de Diploma, que comprovam suas qualificações acadêmicas e também as habilidades e competências que adquiriram na graduação. O aluno diplomado já é um profissional e pode atuar no mercado de trabalho, ou prosseguir seus estudos em programas de mestrado e doutorado.
As falhas de Bolonha
Com a reforma universitária, houve um aumento no número cursos oferecidos no país. O estudo estatístico, elaborado pela Conferência de Reitores – sobre a introdução de programas de licenciatura e mestrado entre 2009 e 2010 – indica um aumento de 9% em relação ao semestre anterior. Além disso, também revela que 79% de todos os cursos conduzem aos graus Bachelor ou Master, como estabelecido na Declaração de Bolonha.
Porém, segundo o jornal espanhol “El País”, muitas das mudanças ainda se restringem ao papel. “A verdade é que com a adaptação formal quase terminada (o que não é pouco, uma vez que o acordo entre os países não obriga a nada), agora o processo encara o próximo passo, provavelmente o mais difícil: dar conteúdo à mudança”, diz a reportagem.
Dois grandes desafios da próxima década são promover a mobilidade de estudantes, professores e pesquisadores e melhorar as oportunidades de emprego para alunos com os títulos de Bachelor.
Segundo relatório da Associação Européia de Universidades, a principal dúvida sobre a eficácia do Processo de Bolonha é se o grau de bacharelado está sendo suficiente para conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho. Na Alemanha, a palavra-chave para um bom emprego ainda é o título de Master. O relatório é resultado de 27 visitas a universidades de 16 diferentes países, entre eles a Alemanha, e conclui que “tem crescido muito pouco o número de universidades que considera o bacharelado como uma preparação adequada para o emprego […] 11% em 2007, e 15% em 2010”.