Uma free mover observando tudo
Intercambista na Goethe Universität, a estudante brasileira Karin conta como é o ensino de jornalismo na Alemanha.
por Mayara Teixeira
Karin Salomão, estudante de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes, é também intercambista na Goethe Universität, em Frankfurt, Alemanha. “Sou uma intercambista free mover, mas a maioria é Erasmus”, conta. Os free movers são estudantes autônomos, que não participam do intercâmbio organizado pela universidade, mas aproveitam as iniciativas de acolhimento e organizam sua estadia como convidados. Sem coordenação de docentes, eles não podem se candidatar a estágios, seminários, monografias ou qualquer outra prática profissional.
Como Karin é uma estudante brasileira, não pode se inscrever no programa Erasmus, aberto apenas a estudantes dos países da União Européia. Os intercambistas Erasmus seguem um protocolo mais rígido. Eles têm coordenadores nos dois países (o de origem do aluno e aquele em que ele está fazendo intercâmbio), um número de créditos a cumprir e programas obrigatórios. Além disso precisam cursar disciplinas que sejam equivalentes com aquelas de seus cursos natais, para que os créditos sejam validados. “Como free mover, posso escolher as matérias que me interessam, independentemente do departamento. Eu, por exemplo, estou fazendo história, religião e sociologia. Por outro lado, é ruim não ter nenhum coordenador”, diz Karin.
Campus Westend, da Goethe Universität, em Frankfurt (foto por Karin Salomão)
Diferentes maneiras de se fazer jornalismo
No sistema de ensino alemão existe uma série de formas para se obter uma formação jornalística. Por exemplo, a Escola de Henri-Nannen, uma das mais conceituadas, não exige dos candidatos nenhuma graduação, apenas o domínio da língua e faixa etária entre 19 e 28 anos. A Escola foi fundada em 1979, e é apoiada pelo jornal semanário “Die Zeit” e pela empresa Gruner+Jahr que produz a revista “Der Stern”.
Outras escolas, como a Escola Alemã de Jornalismo em Munique e a Escola de Jornalismo em Berlim, se baseiam em um processo seletivo semelhante ao de Henri-Nannen. A primeira é a mais antiga na área, fundada em 1949 por Werner Friedmann, chefe de redação do “Süddeutschen Zeitung” e editor do “Abendzeitung”. Foi o primeiro curso de redação originalmente alemão.Já a escola de Berlim pertence à Associação dos Jornalistas Alemães (DJV).
Existem também cursos técnicos, alguns deles especializados em um determinado ramo do jornalismo, como a Escola de Jornalismo de Colônia, voltada para política e economia. Quem se interessa em televisão, por exemplo, pode se candidatar a RTL Escola de Jornalismo, que pertence à rede de televisão alemã de mesmo nome.
Jornalismo geralmente é especialização
A Universidade Goethe, em Frankfurt, não oferece curso de jornalismo. Essa universidade abrigou a famosa Escola de Frankfurt, um centro de intelectuais liderados por nomes como Adorno e Horkheimer que desenvolveu estudos clássicos na área da comunicação. Apesar disso, não oferece formação para jornalistas. Segundo a brasileira Karin, “eles não dão ênfase a isso em formação superior, somente na pós-graduação ou em pesquisa. Curso de jornalismo, mesmo, existe apenas em algumas cidades”.
Alguns cursos alemães de comunicação incluem publicidade, marketing, media management, e servem, inclusive, para quem quer dirigir uma editora ou jornal. Geralmente se intitulam “Medienwissenschaft”, algo como ciência da mídia, em português.
“O que a maioria das pessoas faz é um curso de alguma outra coisa, como política, economia ou esse tal de ‘Medienwissenschaft’ e atua como jornalista. O que faz todo o sentido, porque o jornalismo, aqui na Alemanha, é bem diferente”, afirma Karin.
Para atuar como jornalista, não é necessário nenhum diploma. Não há uma lei que obrigue os jornalistas a ter uma formação específica. Além dos cursos universitários de jornalismo, uma forma de aprender o ofício é através do concorrido programa de estágio de dois anos. “E não precisa sequer de um ensino superior. Tenho um colega que faz um estágio (Voluntariat) em um pequeno jornal aqui em Frankfurt e ele acabou de terminar o High School”, diz Karin.