Cursos de Máster abrem caminhos para jornalistas espanhóis
Com o lançamento do programa de Másteres Oficias pelo Governo Espanhol, a titulação se torna um meio de se diferenciar em um mercado de trabalho tão competitivo
por Marina Jankauskas
“Há grande movimento dos jovens em direção à Pós-Graduação pois, como aqui, faltam vagas no mercado. Enquanto esperam, as famílias os reenviam às escolas para se qualificarem” , explica a professora Thaïs de Mendonça Jorge, professora da Universidade de Brasília que fez pós-doutorado em Navarra e chegou a ministrar um curso sobre Jornalismo na América Latina na universidade espanhola. Realmente, em um país como a Espanha, onde o diploma não é, de forma alguma, obrigatório para se exercer o jornalismo e a inserção dos estudantes no mercado de trabalho está cada vez mais difícil, muitas vezes a especialização é uma boa solução.
E os chamados Másteres nunca estiveram tão em alta quanto nos últimos anos. Isso porque, desde 2006, como mais uma medida para se adequar ao chamado Plano de Bolonha, o Governo Espanhol instituiu um programa de Másteres Oficiais, no qual avalia os cursos e fornece seu selo de qualidade, caso sejam aprovados. Na época, o Governo ressaltava que as vantagens desse novo programa iriam além do carimbo de qualidade e do caráter oficial de cada curso: com ele, os másteres seriam oferecidos a preços públicos, ou seja, não custariam tão caro como muitos dos então oferecidos pelos centros privados.
Isso não significa, no entanto, que os Másteres sejam uma coisa recente. Esse tipo de curso de Pós-Graduação sempre existiu só que sua qualidade ainda não era aprovada pelo Ministério da Educação. “Antes, em 2004, 2005, todo o Máster que você fazia, não importa a qualidade que ele tinha, não era oficial. A partir de 2006, um Máster já podia ter um selo de aprovado pelo Ministério da Educação. Para que um Máster seja oficial, as instituições têm que enviar para o Ministério o plano de estudos, quais são os conteúdos, que matérias vão ser ensinadas etc. Se tudo isso for aprovado, o Máster vira Máster Oficial. Mas continuam existindo Másteres não oficiais, que têm selo de qualidade próprio, mas não esse carimbo de ‘Oficial’” explica Alberto Cairo, uma das referências mundiais sobre pesquisa em infografia jornalística, que já foi professor na Universidad de Santiago de Compostela, Universitat Oberta de Catalunya e University of North Carolina.
[colocar tabela feita a partir dos dados do site http://www.guiauniversidades.uji.es/postgrados2010/index.html
(colocar TITULO: Máster AREA: Periodismo)]
Tipos de Máster
Com as novas diretrizes do ensino espanhol, que se adaptou ao Espaço Europeu de Ensino Superior (EEES), passam a existir dois tipos de Máster: aqueles direcionados à especialização profissional, ou seja, à prática; e os direcionado à pesquisa acadêmica, ou, por assim dizer, à teoria, à pesquisa. Com a inclusão desse último, o caminho daqueles que pretendem seguir carreira acadêmica no Jornalismo ficou mais fácil, segundo Alberto Cairo. “Antes, como funcionava? Você tinha a Graduação, não existia o Mestrado como figura oficial e existia o PhD. Então, quando você acabava a sua Graduação e queria fazer Doutorado, antes de começar a fazer a sua tese, você precisava passar 2 anos fazendo cursos de doutoramento. Isso ainda acontece, se você for direto da Graduação para o Doutorado. Agora, se você faz antes um curso de Mestrado orientado à pesquisa, você poupa esses dois anos e vai praticamente direto ao PhD.”
Já no lado prático, ocorre outro fenômeno interessante na Espanha, algo que ainda não existe no Brasil. São os cursos de Pós-Graduação oferecidos pelos grandes meios de comunicação, como os jornais El País, El Correo, El Mundo e La Voz de La Galicia, em parceria com instituições de ensino e universidades. Para traçar um paralelo com nosso país, podemos dizer que esses Másteres são similares com as aulas do Curso Abril de Jornalismo, o Programa de Treinamento da Folha ou o Curso Focas do Estadão, com a diferença que eles têm, justamente, o apoio de instituições renomadas de ensino. Assim, o jornal El País, por exemplo, firmou uma parceria com a Universidad Autónoma de Madrid para montar sua Escuela de Periodismo: de um lado, o jornal ganha porque monta um curso com a credibilidade da Universidade, e ainda consegue o título de Máster Oficial; de outro, a universidade ganha por poder contar com o nome de peso do maior jornal do país associado ao seu programa de Pós-Graduação.
Esses cursos são procurados por estudantes recém-formados e até mesmo pessoas com outras formações, que vêem neles uma oportunidade de, além de conseguir mais uma titulação, ter uma chance de trabalhar nos grandes meios de comunicação, já que esses buscam justamente futuros profissionais que já tenham sido “treinados” de acordo com suas diretrizes. “Os jornais usam [os Másteres] como uma forma de seleção. Então, quer dizer, se você quer trabalhar no El País, uma das melhores formas é fazer o Máster do El Pais. Porque como parte do Mestrado, você terá seis meses de estágio na redação”, defende Alberto Cairo.
Levando em conta que muitas instituições de ensino de Jornalismo têm certa resistência à entrada das grandes empresas no meio universitário, cabe a pergunta de como esse tipo de curso é visto na Espanha. Segundo Renata Moraes, Coordenadora de Comunicação da Fundação Estudar que estudou na Universidade de Navarra e trabalhou no Diário de Sevilla, eles são bem aceitos. “Eu tive um editor, quando eu trabalhei no Diário de Sevilla, que era um advogado formado pela Universidad Complutense de Madrid que tinha se tornado jornalista por meio do Máster do El País. E era bem comum isso nas redações. Isso é muito bem visto, eles são muito bem aceitos, porque eles têm a credencial do jornal”.
Referências:
http://www.aprendemas.com/reportajes/P1.asp?Reportaje=540