Os Recém-formados de Jornalismo estão prontos para o mercado de trabalho?
Por Marcela Cataldi Cipolla
Nos últimos anos, muitas faculdades de jornalismo no Brasil têm reformulado a grade curricular, foi o que aconteceu na Universidade Federal de Minas Gerais e na Universidade Nacional de Brasília e em tantas outras espalhadas pelo país. Já, muitas outras faculdades, como a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, estão discutindo mudanças nesse sentido e ajustes pontuais já foram colocados em prática. O Ministério da Educação (MEC) já vinha debatendo também alterações nas diretrizes curriculares nacionais, recentemente.
Os diferentes sistemas de ensino na área de Comunicação Social em outros países e a queda da obrigatoriedade do diploma para jornalista, julgado pelo Supremo Tribunal Feral em 2009 colocaram em cheque muitas questões do ensino na área. Afinal, a faculdade de jornalismo realmente prepara o aluno para enfrentar o mercado de trabalho? Ela precisa existir? Como anda o ensino de jornalismo on-line e das novas tecnologias? E a capacitação dos professores? Os alunos têm dificuldades para arranjar estágio? Afinal de contas, eles dominam as técnicas e conhecimentos essenciais para exercer a profissão?
Tudo isso, ainda vêm sendo bastante discutido e é bastante recente, assim, poucas são as respostas definitivas para as perguntas acima. As instituições acabam procurando caminhos para solucionar esses questionamentos com ferramentas próprias. Em média, a duração do curso é de quatro a cinco anos, a maioria das faculdades tem duração de quatro e as aulas são para diferentes turmas nos períodos matutino ou noturno. No entanto, há também faculdades que oferecem o ensino em tempo integral para jornalismo, como é o caso da Universidade Federal de Viçosa. Mais recente nesta área é a modalidade Ensino à Distância (EAD), aulas via internet foi a escolha da UNIT, a Universidade Tiradentes, em Aracaju, no estado do Sergipe.
Além disso, muitas das faculdades têm em seus primeiros semestres aulas mais abrangentes sobre comunicação social, as disciplinas iniciais são comuns para todos os alunos. As habilitações em jornalismo, publicidade e propaganda, radialismo e até teatro só são definidas a partir do segundo ou do terceiro semestre.
Se por um lado as faculdades podem definir os horários, determinadas aulas e até o período em que elas serão lecionadas, por outro, o MEC direciona boa parte do ensino de jornalismo no Brasil. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais, os alunos de Jornalismo devem ter aulas práticas e laboratoriais, mas a carga-horária desses dois tipos de aulas varia bastante. Segundo Julia De Medeiros, aluna do último ano de jornalismo do Instituto Presbiteriano Mackenzie, de São Paulo, o curso é mais voltado para a parte teórica. “Acho que apesar de gerar no aluno uma maior capacidade crítica e analítica, não prepara o estudante para o dia a dia e para as demandas do mercado de trabalho. O curso, os professores e as instalações satisfizeram as minhas expectativas, mas sinto que a universidade precisa se alinhar com a realidade das redações”, afirma.
Uma boa alternativa encontrada por muitas universidades grandes, como a as escolas de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade de São Paulo, é de se aproveitar de uma ampla gama de disciplinas disponíveis em outros campos de ensino, como sociologia, história, economia, geografia e etc, nas outras faculdades e tornar obrigatório que parte do curso de jornalismo seja formado por disciplinas eletivas. Assim, o aluno pode ter mais facilidade para direcionar a formação, para descobrir qual área do jornalismo seguir e até mesmo para eleger outras aulas práticas, se o aluno sentir necessidade.
De acordo com a editora de treinamento da Folha, Ana Estela de Sousa Pinto, a maioria dos recém-formados apresenta inúmeras dificuldades nas redações de jornais e revistas, segunda ela, frequentemente eles não têm o hábito de ler jornais; não acompanham os principais fatos do país e do mundo; cometem erros graves de português e conhecem superficialmente o assunto que pretende cobrir.
Para Ana Estela, a faculdade hoje não cumpre o papel de formar adequadamente os alunos. “A graduação em jornalismo deveria deixá-los preparados para pensar criticamente, saber refletir sobre a responsabilidade do jornalismo e, de preferência, dominar as técnicas jornalísticas básicas e as diferentes linguagens”, comenta. Além disso, Ana Estela revela que todos os alunos de Jornalismo devem estudar muito por conta própria, especialmente sobre a área que ele decidiu seguir e que não é ensinada nas aulas do curso. “Nenhuma faculdade de jornalismo, por melhor que seja, preparará totalmente alguém para atuar nas redações. O aspirante a jornalista terá que complementar sua formação por conta própria e, só estará realmente pronto depois de alguns anos de experiência”, avalia.