Quem são os jornalistas?
Confira o perfil dos profissionais da área que atuam nos Estados Unidos e no Canadá
por Beatriz Amendola
O jornalista investiga todos os problemas do mundo. Discute política, ciência, economia, cultura e mais uma infinidade de assuntos – mas eles pouco falam da imprensa, das agruras da profissão e, muito menos, de quem eles são como profissionais. Mas a investigação do perfil dos jornalistas, como não poderia deixar de ser, é importante para compreender não só eles mesmos como também a atividade jornalística. Por isso, fomos investigar quem são os jornalistas que atuam nos Estados Unidos e no Canadá – quem são eles, o que fazem e onde trabalham.
Para situar a investigação, começamos pelo básico: a quantidade de jornalistas de cada país. Os Estados Unidos, segundo um censo realizado pela American Society of News Editors (ASNE) – entidade que realiza pesquisas entre jornalistas desde 1978 – possuem 41.600, conforme dados de 2010. Já a população de jornalistas no seu vizinho do norte é bem mais modesta: uma média tirada entre 2007 e 2009 mostra que há 2.950 jornalistas, de acordo com o Service Canada, um site oficial do governo canadense.
A diferença quantitativa pode assustar em um primeiro momento, mas logo se dissolve quando se mostra a diferença da população entre os dois vizinhos. A população canadense é de 34 milhões, contra 300mi dos EUA. Logo, não é de se estranhar que a terra do Tio Sam tenha mais de dez vezes o número de jornalistas do Canadá.
O número total por si só, porém, não ajuda a responder muita coisa. Então aí partimos para as especificações. A começar pelo gênero: em ambos os países, o jornalismo é uma profissão predominantemente masculina. Dos dois, o Canadá é o menos desigual: são 56% de homens e 44% de mulheres, contra 63% e 37% nos EUA.
Mas a desigualdade não está apenas aí. O censo da ASNE mostra que, nos EUA, apenas 12% dos jornalistas pertencem a grupos minoritários, como negros e hispânicos. Verificou-se inclusive uma redução de 5.500 para 5.300 desses jornalistas entre 2009 e 2010 – o que não deixa de ser preocupante, visto que “Os números do censo dos Estados Unidos mostram claramente que as populações minoritárias estão crescendo enquanto nossas redações não estão refletindo esse aumento. Essa deveria ser uma preocupação para todos que veem a diversidade como uma forma mais precisa de contar a história dessa nova América” , nas palavras de Ronnie Agnew, do Comitê de Diversidade da Asne, em entrevista ao portal da associação. No Canadá, infelizmente, nenhuma pesquisa focou-se nesses grupos e não há sua quantificação.
No trabalho
E dentro das redações, quem são esses profissionais e em que veículos eles estão trabalhando? Muitos ainda seguem os passos de Bob Woodward e Carl Bernstein – jornalistas do Washington Post que cobriram o escândalo Watergate, a causa da queda de Richard Nixon – e se mantêm nos veículos impressos: 53% dos norteamericanos estão em jornais e revistas, de acordo com dados de 2008 do Departamento do Trabalho do país. Já no vizinho, são 41%. Esses números mostram que o impresso ainda é uma das mais importantes plataformas jornalísticas – e, possivelmente, uma das mais desejadas por quem entra na área.
O rádio e a televisão vêm em seguida em ambos os países. No Canadá, aparecem como uma categoria única, o broadcasting, onde 35% dos jornalistas estão empregados. Já os dados dos EUA vêm separados: 15% estão na TV, contra 5% do rádio.
Curiosamente, apesar de os dados serem recentes, quase não há menção direta à internet. O Departamento do Trabalho norteamericano fala em 3% de jornalistas empregados em “outros serviços de informação“, o que, pelas contas, bate com os 1.581 que a ASNE identificou trabalhando exclusivamente para a plataforma online. O Service Canada não traz nenhuma menção a isso. Se for para apostar um motivo do porquê dessa falta de dados – principalmente quando a internet já conquistou um espaço importantíssimo como difusor de informações – arrisco que seja pelo fato de que muitos dos jornalistas que produzem para sites são, antes de tudo, repórteres de impresso, TV e rádio. Mas ainda faltam estudos que falem sobre esse fenômeno com mais clareza.
Essas porcentagens, porém, não abrangem uma categoria comum de trabalho jornalístico: os freelancers, também chamados por lá de stringers. Os EUA têm quase o dobro desse tipo de repórteres do que o Canadá, com 19% contra 7%.
E quanto, em média, esses jornalistas ganham? O que a sabedoria popular diz aqui sobre o (baixo) salário dessa categoria profissional também é verdade do outro lado do Equador. Nos Estados Unidos, a média salarial em maio de 2008 (ainda de acordo com o Departamento de Trabalho) era de US$34.850,00, o que equivale a pouco menos de US$3.000,00 por mês. No Canadá, surpreendentemente, os números subiram: C$56.481,00 ao ano, o que seria C$4.700,00 ao mês.
Formação
Outra questão intrigante é de onde vieram esses jornalistas que dominam TV, rádio, impressos e internet. Essa parte é, incrivelmente, a mais nebulosa na área de se traçar um perfil desses profissionais, pois há relativamente poucos dados numéricos a respeito, principalmente no Canadá, – e nenhum dos dois países exige diploma em jornalismo para se exercer a profissão.
Segundo o Service Canada, em 2009 62% dos jornalistas eram graduados em alguma área – contudo, ele não especifica qual. Na experiência de editores, porém, o mais frequente é que os alunos do país sejam de jornalismo ou de comunicação. Michelle Richardson, editora do Montreal Gazette conta que a maioria dos estudantes entrevistados por ela nos processos seletivos é da área. “É muito incomum termos candidatos de outros campos“, afirma.
Quanto às universidades, a editora diz que não há preferência por nenhuma específica – mas os alunos com mais chances de conseguirem um emprego são os que já tiveram uma experiência prática prévia, dentro ou fora do curso.
Já nos Estados Unidos, a Pesquisa Anual de Jornalismo e Comunicação de Massa (Annual Survey Of Journalism And Mass Communication) trouxe dados mais específicos sobre a questão – e ainda que não considere o contingente empregados em redações de revistas e outros periódicos não-diários, ela mostra que por lá os jornalistas que acabaram de sair da faculdade estão muito bem. De acordo com as informações obtidas em 2010, os jornais diários contrataram em média um terço de suas redações diretamente das universidades, o que já indica uma alta empregabilidade.
O censo foi ainda mais além, e verificou que, em jornais, emissoras de televisão e rádios, nove entre dez dos jornalistas recém-formados contratados vinham de cursos de jornalismo ou comunicação. E essa tendência não é recente: segundo os próprios pesquisadores, essa porcentagem já se mantém estável há pelo menos dez anos para as rádios e 35 para os jornais. Essas porcentagens convergem com uma pesquisa da ASNE realizada em 1989, que constatou que 80% dos jornalistas recém-contratados pelas redações eram vinham dos cursos de jornalismo.