Estudos revelam o perfil dos jornalistas portugueses
Mais jovens e mais mulheres praticam a profissão
por Paulo Eduardo Palmério
Para entender as tendências do jornalismo português nos próximos anos, é necessário acompanhar as mudanças no perfil dos jornalistas, que se aprofundou a partir da nova Lei de Imprensa de 1999. O jornalismo hoje é feito por mais mulheres, mais jovens e mais profissionais com curso superior.
Uma análise dos dados do estudo intitulado “Ser Jornalista em Portugal”, coordenado pelo professor José Rebelo, do Instituo Universitário de Lisboa, traça os diversos perfis do jornalista português, com base em entrevistas realizadas nos últimos 5 anos. Segundo ele, o estudo mostra ““o estagiário que vai repetindo estágios e que nunca consegue integrar a profissão, até o jovem jornalista que não encontra o que procura e então desiste e vai para profissões conexas, como assessorias ou empresas de comunicação”. Não muito diferente do que passam os jornalistas ingressantes no Brasil, não é mesmo?
O primeiro ponto de destaque do estudo mostra um aumento maçico do número de jornalistas com carteira profissional. Isso aconteceu em função da ingressão de Portugal na União Européia na década de 1980, que possibilitou a entrada de novos grupos de mídia e a legalização de radios comunitárias. A nova Lei de Imprensa também impactou a explosão de jornalistas credenciados. Qualquer pessoa com curso superior pode tornar-se jornalista, desde que faça um estágio obrigatório.
A tabela abaixo, de outro estudo chamado “Jornalismo: uma profissão em mudança”, da socióloga Diana Andringa, mostra a evolução dos profissionais com carteira em Portugal:
Outra alteração significativa é o crescimento do número de estagiários, em detrimento da refração do número total de jornalistas ingressantes. Em outras palavras, os estagiários estão se perpetuando no cargo e exercendo funções que são próprias do jornalista profissional. Com isso, ganhando pouco e sem capacidade de reivindicação (devido a grande oferta de profissionais no mercado), os jornalistas ingressantes passam de estágio para outro estágio. As empresas de comunicação se beneficiam disso, mantendo as redações com custos baixos.
Outra explicação para a diminuição relativa dos jornalistas ingressantes se deve pela “crise” européia, que diminuiu postos de trabalho. Mas também pelo acúmulo de funções da profissão com a modernização das redações em grupos multimídias. O jornalista escreve um artigo para o jornal, outro para o conteúdo online, e depois um texto para a televisão. Segundo o pesquisador José Rebelo, essa característica atual cria um “claro aumento dos níveis de precariedade da profissão”.
A maior participação das mulheres é uma tendência positiva. Enquanto em 1987 as mulheres representavam apenas 19,8% do total dos jornalistas, hoje em dia o número cresceu para 43,4%. Isso pode ser observado nas faixas jovens de jornalistas ingressantes. Nos cinco anos de pesquisa do “Jornalismo: uma profissão em mudança”, Diana Andringa registrou o ingresso de 40% mais mulheres do que homens no jornalismo. Segundo ela, esses dados “fazem supor, sem grande risco, que daqui a curto/médio prazo a percentagem de mulheres na profissão será claramente superior à percentagem de homens”.
Mais um dado interessante é o crescimento de pessoas com curso superior. A multiplicação das universidades privadas de comunicação social, muito delas a baixo custo, criou as condições para que mais jovens pudessem cursar o ensino superior. De acordo com o pesquisar José Rebelo, isso acontece pela grande “visibilidade social do jornalismo”, que leva a que os cursos de comunicação social continuem “a ter muita procura, apesar da crise que existe neste mercado”.
Estamos falando de Portugal. Mas bem que serviria muito bem ao Brasil, não é verdade?