Ciências Humanas na prática
Na América Latina, os currículos dos cursos de jornalismo têm uma forte base teórica, que aproxima o curso das Ciências Sociais
por Camila Camilo
Da Universidad Autónoma de Querétaro, no México, à gigantesca Universidad de Buenos Aires, na Argentina, os cursos de jornalismo fazem parte do ensino das Ciências Humanas. Até aí nenhuma novidade. No Brasil, jornalismo não remete à contas nem à dissecação de animais. O que torna os demais estudantes de jornalismo latinos mais próximos das Ciências Humanas que nós, brasileiros, é o ciclo básico dos primeiros anos da graduação, o currículo e a faculdade onde os cursos são ministrados.
Campus da Universidad Autónoma de Querétaro
Em várias universidades, o curso de jornalismo não está em uma faculdade exclusiva de comunicação, mas em uma unidade que também tenha cursos como Sociologia ou Ciências Políticas. Na já citada Universidad Autónoma de Querétaro, por exemplo, futuros jornalistas dividem o prédio da Facultad de Ciências Politicas y Sociales com quem deseja virar sociólogo ou administrador público. Não é à toa que a universidade espera que os alunos por ela formados tenham “uma base sólida em ciências sociais, com formação específica em comunicação social e jornalismo”, como diz o perfil dos egressos.
O currículo de jornalismo em boa parte das faculdades latino-americanas apresenta um ciclo básico bem teórico. Os recém-chegados à Universidade de Buenos Aires, por exemplo, estudam as disciplinas “Introdução ao Conhecimento da Sociedade e do Estado” e “Introdução ao Pensamento Científico”, além de Economia, Sociologia, Semiologia e Psicologia, antes de partir para o currículo específico da área.
Como muitas faculdades oferecem como especialização da área de Comunicação Social, a habilitação para dar aulas, ou até mesmo para atuar no terceiro setor, alguns alunos podem cursar disciplinas optativas nestas áreas. Também na Universidade de Buenos Aires, quem estuda Comunicação Social pode escolher atuar na “orientação em políticas e planificação da comunicação” ou então na “orientação em comunicação e promoção comunitária”. Com isso, os estudantes de jornalismo estudam também “História da Argentina e da América Latina” e “Principais correntes do pensamento contemporâneo”. Ou seja, mais base teórica.
Equilíbrio
Renata Cabrales, jornalista colombiana, sugere que as universidades busquem um equilíbrio no currículo dos cursos de jornalismo. Nem tão prático, nem exclusivamente teórico “que mergulham na teoria e esquecem que o mundo atual está mediado, em muitos aspectos, por ferramentas digitais”, explica em um artigo publicado no site Observatório da Imprensa.
O texto defende a diminuição das exigências para que alguém possa dar aulas de jornalismo e que os estudantes briguem por cursos mais atualizados “é vital considerar o ensino de jornalismo como algo vivo, que se monitora, mede, estuda, constrói e descontrói de maneira constante”.
Neste ano, a Universidade de Rosario, a mais antiga da Colômbia – fundada em 1653 – em parceria com a editora Producciones Semanas criou um curso de pós-graduação que pretende unir teoria e prática no ensino do jornalismo. Semelhante ao modelo de formação profissional fruto da parceria entre o jornal espanhol El País e a Escuela de Periodismo – UAM, o curso é um mestrado em jornalismo com duração de um ano e meio. Além das aulas, os alunos fazem estágios nas publicações da editora.
Referências:
http://www.elpais.com/articulo/sociedad/Colombia/crea/maestria/inspirada/
Escuela/Periodismo/UAM/PAIS/elpepisoc/20110208elpepisoc_7/Tes
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/como_mudou_o_ensino_de_jornalismo