Ensino de jornalismo na América Latina: um levantamento de estatísticas
Por Denise Eloy
As dificuldades do ensino de jornalismo no Brasil não são características apenas do nosso país. Estudos sobre a profissão na América Latina alertam que é necessária uma maior coerência entre a profissionalização da atividade e as possibilidades de seu exercício na sociedade atual. Ainda mais quando falamos de uma sociedade conectada e com acesso constante à informação.
A partir disso, as escolas de jornalismo possuem uma grande responsabilidade com a situação de trabalho dos jornalistas e com o papel que ele exerce na sociedade, já que são o principal meio de formação desse profissional.
No começo da década de 50, existiam somente 13 escolas de jornalismo na América Latina, que se transformaram em cerca de 1000 em 2005. O México aparece com 321 unidades acadêmicas, atrás apenas do Brasil, com 348. Os dois países concentram 65,2% do total de escolas da América Latina.
Esses dados foram apresentados em artigo de Claudia Mellado, professora da Escola de Jornalismo da Universidade de Santiago (USACH), no Chile. Reflexões sobre a oferta acadêmica, a situação de trabalho e a formação do jornalista na América Latina discorre sobre a história do ensino da profissão em terras latino-americanas.
Segue tabela comparativa com a quantidade de faculdades por país :
Em relação à pós-graduação em jornalismo, a autora afirma que os doutorados se concentram em quatro países da região: Argentina, Brasil, Cuba e México, enquanto os mestrados se espalham por 14 países.
A pesquisa realizou uma análise do ensino de jornalismo e sua ligação com o mercado de trabalho. Uma das conclusões se refere ao grande número de faculdades existentes na América Latina em contraste com um mercado saturado e com condições de trabalho precárias dos profissionais.
Chile
Pode-se explorar em detalhes a situação de cada país. Como exemplo, analisaremos o Chile. De acordo com o relatório O ensino de Jornalismo e o mercado de trabalho, realizado para o Conselho Superior de Educação do Chile em 2007, o país possui 36 escolas de jornalismo, distribuídas em dez universidades públicas e 26 universidades privadas. O professor Miguel Paz, da Universidade Diego Portales e ganhador do prêmio Knight News Challenge 2011, apresentou esses e outros dados em um encontro com professores de jornalismo no Brasil em abril de 2010. Somente seis das 36 escolas eram acreditadas de alguma forma. Além de tudo, naquele país, para trabalhar na área precisa-se estudar jornalismo e a educação não é gratuita.
Segundo o estudo, uma das queixas mais frequentes das redações é a má qualidade dos estudantes que chegam para fazer estágios ou trabalhar como colaboradores e substitutos no fim de semana, realidade de muitos ao entrar no mercado de trabalho.
No país, Claudia relata que o jornalismo deixou de ser uma profissão das elites: em 1973, só havia quatro escolas. Já em 2005 existiam 36 escolas, em 68 sedes. Esse fenômeno foi estimulado pela reforma do sistema superior nos anos 1980. São 950 novos jornalistas a cada ano e os números apontam para uma crescente saturação do mercado. Isso se deve também às más condições de trabalho dos profissionais, em que muitos acabam exercendo outras atividades. Os que de fato trabalham com jornalismo, em sua maioria, não têm salários altos ou benefícios. [Fazer info sobre o Chile como exemplo].
Quer saber mais?
Leia o artigo de Claudia Mellado.
Leia o relatório final da pesquisa para o Conselho Superior de Educação.
Veja a apresentação de Miguel Paz.
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