Columbia, um centro de referência no ensino de jornalismo
A receita é o bom e velho “gastar a sola” do sapato saindo a campo e fazendo reportagens.
Por Alexandre Dall’Ara
A escola de jornalismo da Columbia University, em Nova York, é considerada a melhor do mundo. Fundada em 1912, a partir de uma doação de Joseph Pulitzer, a escola está prestes a completar o seu centenário. Cinco anos após sua fundação foi concedido o primeiro prêmio Pulitzer, hoje considerado o mais importante prêmio em jornalismo do mundo.
Mas o que faz de Columbia um centro de ensino diferenciado? Para responder a essa questão, primeiro é preciso entender o ensino de jornalismo em si. Em artigo publicado na edição de setembro/outubro de 2010 da Revista ESPM, o dean (Chefe, diretor) do programa de pós-graduação de Columbia, David Klatell, explica que para muitos estudiosos o ensino de jornalismo não é próprio para a academia. Nessa visão, o jornalismo seria uma profissão estritamente prática, imprópria para a academia, ela não exigiria um curso superior.
Klatell não discorda totalmente desta visão. Para ele, a formação em jornalismo não é essencial, apesar de muito importante. “Existem ótimos jornalistas que nunca foram a escolas de jornalismo, a uma universidade. Mas esse é um grupo muito pequeno de pessoas extremamente talentosas. Para a maioria das pessoas é necessário porque existe muito conhecimento especializado que os jornalistas devem saber. Não acho, no entanto, que todos necessariamente devam [se formar].”
O ensino da profissão, portanto, deve levar em conta as particularidades dessa área. Se por um lado, a profissão é, de fato, prática e pode ser aprendida fora da escola, por outro, existem uma série de habilidades necessárias ao profissional que devem fazer parte do currículo. Klatell deixa claro o atributo mais fundamental, a reportagem. Aulas teóricas, expositivas não são o ideal. O curso deve ser voltado às técnicas da profissão. Mas aqui é preciso pontuar: “estamos ensinando jornalismo ou um conjunto de técnicas?” Operar equipamentos, desde câmeras, gravadores até softwares de edição são capacidades que o alunos aprende por si e muitas vezes conhecem melhor que os próprios professores. As ferramentas estão cada vez mais modernas, rápidas e intuitivas. As técnicas, a que se refere o professor, são aquelas velhas e conhecidas: a entrevista, a reportagem, a pesquisa, o olhar curioso, a capacidade crítica. É nesse ponto que uma boa escola de jornalismo deve se focar. “É fundamental para os estudantes fazerem, de fato, jornalismo e, se possível, todo dia. Não apenas sentar na sala de aula, mas sair na cidade e fazer reportagem, entrevistas, cultivar fontes, encontrar informações, contar histórias todo dia.”
Essa concepção do ensino de jornalismo parece ser a raiz da qualidade do curso de Columbia. Lá, o currículo também inclui aspectos teóricos, como economia, história, geopolítica, mas foca na experiência. Uma prova evidente nessa direção é o próprio corpo docente. Na faculdade, “os professores, os diretores, fazem jornalismo todo dia, não apenas falam sobre isso. Os professores ensinam, publicam, escrevem, consultam. Isso nos faz diferente.”
Klatell também atribui a qualidade da escola aos alunos. O perfil do estudante é muito variado. As turmas são formadas por pessoas experientes e as salas chegam a ter 35 nacionalidades diferentes, “então você tem essa incrível mistura de culturas e formas de contar histórias e todos eles querem se tornar, de fato, jornalistas.”
Jornalismo não é comunicação
A ampla área da comunicação, da qual fazem parte a publicidade, as relações públicas, a comunicação de massa e empresarial, inclui o jornalismo. Para David Klatell, todavia, a diferença é gritante, “é o compromisso com a ética e a verdade. Por definição, a propaganda não é comprometida com a verdade, ela se compromete com as ideias da empresa que a paga.” O jornalista deve ter outro tipo de posicionamento, ele representa o público, em especial na relação com o governo, “ele deve confrontar o governo” salienta o professor.
Com o uso maciço da internet e o compartilhamento cada vez maior de conteúdo, textos em blogs e opiniões em redes sociais, o conteúdo jornalístico parece se apagar diante de tanta “informação”. É comum as pessoas não se atualizem por meio de grandes jornais, mas sim por amigos e textos opinativos.
Essa pode ser uma razão para as dificuldades financeiras da grande mídia, que perde espaço para essa concorrência difusa, “mas quando há uma grande história, um ataque terrorista, quando a economia quebra, quando há uma revolução, quando a primavera árabe acontece, então, quando a história se torna muito importante, os jornalistas profissionais se tornam mais importantes”, diz Klatell. Isso porque o bom jornalismo não é dizer o que pensa, é reportar, é descobrir o que o público acha, o que está acontecendo, contar histórias reais, a despeito do senso comum.
As escolas, segundo o professor, precisam fazer esta distinção e decidir se estão ensinando jornalismo ou comunicação. Os alunos também precisam fazer uma escolha: “se as pessoas pensam que o jornalismo é um trabalho de escritório, onde tem fins de semana, longas férias, feriados… simplesmente não é assim.”
David Klatell, Dean do curso de pós-graduação da Columbia University veio ao Brasil a convite da ESPM. Agradecemos a escola por gentilmente ceder espaço na agenda do professor para esta entrevista.