O durante e o depois na formação jornalística
Como funcionam os estágios para os estudantes de jornalismo na França e como se apresenta o mercado de trabalho
por Stephanie Noelle
Na França, o Jornalismo não é ensinado como bacharelado, mas como pós-graduação. Apesar disso o estágio é obrigatório para a conclusão do curso específico da área, e possui peculiaridades que contrastam com o estágio comumente praticado no Brasil.
Em cada etapa do curso de Jornalismo é necessário um tempo mínimo de experiência profissional, mas a duração e o tipo de estágio variam em cada uma das 13 instituições reconhecidas pelo CPNEJ (Commission Paritaire Nationale de l’Emploi des Journalistes).
No Institut de journalisme Bordeaux-Aquitaine, de acordo com Virginie Vandenelsken, secretária da instituição, os alunos fazem dois tipos de estágio durante cada ano, sendo um de curto prazo não remunerado e outro de dois meses ou mais, remunerado de acordo com as normais sindicais e com contrato, e ambos acontecem durante as férias universitárias. Na École des hautes études en sciences de l’information et de la communication (Celsa) o projeto é semelhante e os alunos fazem dois tipos de estágio no primeiro ano, com duração de dois meses cada, sendo o primeiro chamado “estágio de aplicação”, que deve ser feito em uma redação de jornal menor, mais regionalizado, e o segundo “estágio de qualificação”, com possibilidade de o aluno estagiar em um veículo um pouco maior. O terceiro estágio, feito no último ano, tem duração mínima de três meses e pode ser feito em qualquer veículo de comunicação francês ou estrangeiro. Outro exemplo é o que é feito no Centre universitaire d’enseignement du journalisme (CUEJ), onde segundo Martine Lejonc os alunos além de estagiarem pelo período de dois meses durante a duração do curso em diversos veículos de mídia, realizam “estágios de observação”, com duração de uma a quatro semanas tanto em mídias regionais ou nacionais. Na Ecole de Journalisme de Sciences Po são obrigatórias no mínimo doze semanas de estágio por ano e na Ecole de Journalisme et de Communication de Marseille são no mínimo oito semanas ao ano.
Em praticamente todas as instituições de ensino recomenda-se que o primeiro estágio seja feito em uma veículo da imprensa regional diária (presse quotidienne régionale em francês, ou PQR). Alguns exemplos de publicações desse tipo são os jornais La Tribune, Les dernières nouvelles d’Alsace, Nice Matin, La Marseillaise e La dépêche du midi.
No entanto, há alguns preceitos comuns a qualquer tipo de estágio exercido na França, fixados pelo Código de Trabalho da França ou pelo Código de Educação. A duração do estágio de um mesmo aluno em uma empresa não pode exceder seis meses por ano de ensino, de acordo com o artigo L. 612-9 do Código de Educação. Caso o tempo de permanência do aluno em uma mesma empresa exceda dois meses seguidos ou dois meses não consecutivos em um mesmo ano, o estágio deverá ser remunerado, de acordo com a lei n° 2011-893 datada de 28 de julho de 2011 (antes da lei o valor era pago apenas aos estágios com duração acima de dois meses consecutivos). O valor padrão está fixado em 12,5% do teto do seguro social francês, que em 2011 é de € 22 por hora. Em uma jornada de trabalho de 35 horas semanais o estagiário receberia € 417,09.
Além do estágio há outras atividades desenvolvidas para intensificar o aprendizado, como a participação nas empresas juniores ou nos jornais e demais veículos produzidos pela própria universidade.
No Celsa – École des hautes études en sciences de l’information et de la communication existe há vinte e cinco anos a Junior Communication, que não trabalha exclusivamente com Jornalismo, mas com toda a área de comunicação que é ensinada na instituição. Já no Cuej – Centre universitaire d’enseignement du journalisme, em Strasbourg, os alunos produzem conteúdo na plataforma online, como o Dossiers Multimédias , que reúne matérias de assuntos diversos e dentro de cada uma há ramificações sobre o tema abordado em outras mídias, como web documentários ou texto. Há também a produção de dois jornais, News d’Ill e Viva Cité. Embora produzidos por alunos, são vendidos e distribuídos na cidade de Strasbourg, colocando os alunos em uma real situação de responsabilidade com a sociedade e com a profissão.
Algo semelhante acontece no Institut de Journalisme Bordeaux-Aquitaine, onde os alunos do segundo ano produzem uma revista chamada Bordeaux City Mag (uma versão modernizada da publicação Almanach, que era feita há vinte anos), publicada desde 2008, que é vendida nas bancas da cidade de Bordeaux na primavera e tem conteúdo focado na própria cidade, buscando sair dos clichês referentes à localidade.
DEPOIS DA FORMATURA
Ao sair com o diploma nas mãos, as opções do recém-jornalista são variadas, assim como o salário inicial. Nas agências de notícia o salário inicial é de € 1.600, no rádio € 1.400, em um site € 1.400, como videorreporter € 1.700 e como redator em mídia impressa € 1.500.
O Cuej promoveu uma pesquisa com os cinqüenta e quatro formandos de 2007, dois anos depois da conclusão do curso, e obteve resposta de trinta e cinco ex-alunos. Daqueles que responderam, trinta e dois estavam empregados, dos quais quinze consideravam seu atual trabalho estável e tinham renda média de € 1.900, chegando até € 3.000. O Celsa também fez uma pesquisa com os formandos da turma de 2009 e constatou que 84% dos alunos que responderam ao questionário encontravam-se empregados. Desse número, 81% entraram no emprego até dois meses depois da formatura, e possuem renda média anual de € 24.000.
Os recém-formados (que tiveram uma formação em uma instituição reconhecida) são responsáveis também por 15,6% das “Cartes de Presse” emitidas no ano de 2011. A idade média dos jornalistas que fizeram a ‘carte’ pela primeira vez e estudou em uma escola reconhecida é de 25,9 anos.