Uma Alemanha conectada
Em um cenário no qual a internet ganha espaço de forma avassaladora, as instituições buscam incorporar o jornalismo online ao ambiente acadêmico
Por Anna Carolina Papp
De acordo com dados da Embaixada Alemã no Brasil, 70% das famílias na Alemanha têm acesso à internet. Em 2009, o consumo médio ultrapassou a marca de duas horas por dia. No mesmo ano, usaram a internet como fonte da informação 55% dos adultos e 81% dos adultos abaixo de 30 anos. Tal cenário aponta o surgimento de um grande mercado para os jornalistas. De repente, o que se apreende do mundo não cabe mais em uma página de jornal. Assim, cada veículo jornalístico importante e cada emissora tem hoje um portal online. No entanto, ainda há poucos internautas que têm vontade de pagar por esse conteúdo.
No final de setembro de 2009, foi formulado o Manifesto Internet, no qual jornalistas e blogueiros alemães, entre eles Sascha Lobo e Stefan Niggemeier, discorrem, por meio de 17 constatações, sobre o novo panorama que a web criou para o jornalismo.
Os blogueiros mais conhecidos da rede são redatores de jornais e revistas. A blogosfera do país é tida como relativamente apolítica. O blogueiro americano Felix Salmon afirmou certa vez que as virtudes alemãs clássicas, como profundidade e exatidão, representam barreiras na rede mundial, de vida rápida e curta. Por outro lado, existe consenso na avaliação do papel que as redes sociais desempenharão futuramente no setor publicitário. Segundo pesquisas junto a responsáveis por marketing, elas estão em primeiro lugar no item das verbas publicitárias em crescimento.
Assim, além dos portais online, a revolução digital é protagonizada pelas redes sociais, que configuram um novo panorama na difusão de informação. Ainda segundo a Embaixada Alemã, 78% dos adolescentes utilizam as redes sociais quase que diariamente. O líder do mercado é o grupo VZ, que opera três portais para grupos específicos: StudiVZ, para universitários, SchülerVZ e MeinVZ, com um total de 15 milhões de usuários. Considerando-se, contudo, o número de perfis de usuários, o líder de mercado na Alemanha é o Facebook, com 7 milhões de participantes. Cabe ressaltar as redes sociais profissionais, como o Xing, os microblogs, o Twitter (ainda visto com reservas e também utilizado para fins satíricos), os portais de vídeo, como o YouTube, e os diversos fóruns online.
Do computador para as salas de aula
O jornalismo online vem sendo incorporado ao ambiente acadêmico alemão, ainda que de maneiras diferentes. “Como não há exigência de diploma, os cursos de outras áreas podem oferecer disciplinas ligadas ao jornalismo e ao digital”, diz Danielle Naves, doutora em Ciências da Comunicação pela USP, residente na Alemanha. “Cabe ao aluno procurar na grande oferta de disciplinas da universidade e encontrar algo que lhe interesse”, completa.
Pelo fato de, no país, o jornalismo se tratar mais de uma especialização do que propriamente de um curso de graduação, nestes, o jornalismo digital não é abordado com tanta profundidade, mas com pinceladas. “Na minha aula de Comunicação Política, por exemplo, fala-se muito sobre as mudanças da internet, mas de um jeito meio raso. No entanto, acredito que as escolas superiores de Jornalismo devem abordar bastante a questão da tecnologia, porque elas têm que acompanhar o mercado”, diz Ana Carolina Nunes, estudante de Jornalismo na ECA-USP e intercambista na Goethe-Universität Frankfurt, na qual cursa Ciência Política.
Assim, um aprofundamento sobre o tema pode ser encontrado em escolas técnicas. A Universidade Técnica de Darmstadt, fundada em 1987, oferece um curso específico de jornalismo online. A grade abarca tanto competências do próprio jornalismo e do envolvimento com a multimídia interativa quanto propriamente os recursos de mídia online, incluindo imagem, áudio, edição de vídeo, gestão de sistemas e gerenciamento de conteúdo.
Do mundo para a Alemanha
A International Academy of Journalism (Intajour), instituição que desenvolve e organiza treinamento profissionalizante para jornalistas ao redor do mundo, oferece na Alemanha o curso Journalism in the Digital World, para jornalistas que desejem desenvolver atividades e estudos em jornalismo digital.
O curso tem duração de dez meses e, neste ano, teve início em 29 de agosto. Os principais temas tratados são: pesquisa investigativa; formas jornalísticas de apresentação na internet; produção técnica de conteúdo em web; ética da mídia: liberdade e responsabilidade; e economia da web e jornalismo empresarial
O programa é composto de cinco fases: três presentes na Alemanha e duas de “e-learning” – o participante estuda em sua cidade local. Nas primeiras, em Hamburgo, Colônia e Berlim, os jornalistas participam de palestras, trabalhos práticos em grupo, discussões e visitas a redações inovadoras. Tais fases são separadas por dois períodos de “e-learning”, nos quais os participantes criam produtos jornalísticos e participam de chats em casa, no seu ambiente de trabalho e de vida familiar. A fase de “e-learning” requer um compromisso de, em média, 7 horas por semana.
Os interessados, que podem ser de qualquer parte do mundo, devem ter concluído a graduação em Comunicação Social/Jornalismo ou ter experiência profissional na área. Além disso, é necessário fluência em inglês. O programa dispõe de algumas bolsas de estudo, concedidas de forma prioritária a profissionais de países com a liberdade de imprensa limitada ou ameaçada.