Procura por curso de jornalismo cresce no Reino Unido
O aumento representa a necessidade de formação prática e teórica dos profissionais, que precisam aprender a ser multitarefas e a lidar com uma competição acirrada no mercado de trabalho
por Lucas Rodrigues
Segundo dados da Higher Education Statistics Agency (HESA), a agência oficial de coleta e análise de informações quantitativas sobre ensino superior no Reino Unido, a região contou com o número de 11.220 estudantes de jornalismo no ano de 2010.
Em comparação com 2009, a quantidade de alunos nos cursos de jornalismo aumentou mais de 50%. Além disso, só no ano passado, 3.565 profissionais da área receberam qualificações pelas universidades britânicas.
Os números demonstram a importância que o curso superior de jornalismo vem conquistando no Reino Unido, apesar de o diploma não ser obrigatório para a prática da profissão nos países que compõe a sua formação.
Entretanto, a competição acirrada e a possibilidade de adquirir uma boa formação prática e teórica se tornaram um atrativo para os cursos na área. É o que conta Martin Fletcher, jornalista britânico que já trabalhou em grupos como a BBC e já foi professor da University for the Creative Arts (UCA), de Farnham, região de Londres. “Os alunos são encorajados a procurar oportunidades de trabalho desde quase o primeiro dia do curso de graduação, e, certamente, a partir dos dois anos em diante”, diz.
Estrutura do ensino
No Reino Unido, o ensino superior é dividido em três níveis: o Undergraduate, que corresponde à nossa graduação, e no caso de jornalismo, dura três anos; o Master, ou mestrado, que tem em média um ano; e o Doctorate, ou doutorado, cujo curso requer três anos de estudo.
Para avaliar a qualidade dos cursos superiores de jornalismo no Reino Unido, existe o Conselho Nacional para o Treinamento de Jornalistas (NCTJ), que oferece certificados não só para as universidades, como também para os profissionais que são aprovados em seus exames. De acordo com o site do Conselho, 68 é o número de cursos de jornalismo credenciados na região, em todos os níveis de ensino.
Fletcher explica que os mestrados em jornalismo são bastante comuns e atraem não só alunos que terminaram a graduação na área, como também pessoas que têm licenciatura em Estudos de Mídia e Inglês, por exemplo, e que querem trabalhar no campo do jornalismo. “O Master geralmente mistura estudos formais com experiência prática no mercado de trabalho”.
Também na graduação, é possível perceber a preocupação em oferecer tanto uma formação prática quanto teórica. Fletcher dá o exemplo da grade curricular do curso da UCA, cujos três anos de Undergraduate são divididos em aproximadamente 70% de disciplinas práticas e 30% de conteúdo. No final do curso, para receber o certificado, é preciso apresentar uma dissertação com no mínimo 8000 palavras.
Experiências
A partir da organização do currículo escolar, os alunos são preparados para atuar nas principais áreas da profissão: online, impresso, rádio e TV. No primeiro ano, os estudantes aprendem a dominar os tratamentos práticos básicos de cada mídia. No segundo, eles precisam escolher duas das áreas citadas para se especializar. “Eles são, então, cobrados para que produzam trabalhos de um padrão mais profissional”, afirma o professor. No último ano, os alunos têm que produzir sua dissertação de conclusão de curso e um projeto final mostrando suas habilidades profissionais na área escolhida.
De acordo com Fletcher, cada ano do curso ainda é acompanhado por elementos teóricos, tais como Mídia, Jornalismo, Sociedade e Cultura, Política e Governo, e Marcos no Jornalismo. “Esses estudos permitem ao estudante que contextualizem o jornalismo em termos históricos, sociais e políticos, e os preparam para a dissertação no terceiro ano, em que eles escreverão sobre seus interesses teóricos e experiências práticas”, explica.
Conquistas e dificuldades
Para Fletcher, a abertura de cursos de jornalismo especializado em esportes, lazer e automobilismo representou um grande avanço para a UCA. “O seu sucesso contínuo é a prova de que existe um mercado real para essas especialidades”, diz. Porém, afirma que lidar com um ambiente midiático em transformação ainda é um enorme desafio para os professores e alunos. “Experiência profissional é a chave para qualquer chance de sucesso”.
Nesse sentido, o professor conta que, no Reino Unido, adquirir experiência às vezes pode significar trabalhar em período integral, sem pagamento por vários meses e sem garantia de efetivação no final. Da mesma forma, diz que os contratos de longa duração estão desaparecendo, na medida em que as empresas investem cada vez mais nos serviços de freelance.
Segundo ele, para lidar com essa situação, “os estudantes precisam ser multitarefas e saber trabalhar naquilo que envolve um número de habilidades interdisciplinares”, como gravar e editar áudio e vídeo, fazer entrevistas, escrever em diferentes formatos e manipular os hardwares e softwares que essas atividades implicam. “Fazer tudo isso, com rapidez e precisão, não é tarefa fácil”, completa.